quarta-feira, 27 de junho de 2012

REALIZAÇÃO DA VIDA
CECÍLIA MEIRELES

Não me peças que cante,
pois ando longe,
pois ando agora
muito esquecida.

Vou mirando no bosque
o arroio claro
e a provisória
flor escondida.

E procuro minha alma
e o corpo, mesmo,
e a voz outrora
em mim sentida.

E me vejo somente
pequena sombra
sem tempo e nome,
nisto perdida
- nisto que se buscara
pelas estrelas,
Com febre e lágrimas,
e que era a vida.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo
Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
Que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lli casou com J.Pinto Fernandes
Que não tinha entrado na história.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Amanhã é o
aniversário
do
NICC I




MAYADA
FILHA DO IRAQUE


O passado e o presente de Mayada reúnem-se neste livro para desvendar as diferentes facetas do regime instaurado por um dos maiores ditadores da história contemporânea.


“Depois da prisão de Mayada, uma série de acontecimentos desencadeou o desejo de tornar este livro uma realidade. Em 1999, Mayada fugiu do Iraque. Em 2000, sua filha, Fay, fugiu do Iraque. Em 2001, Nova York e Washington, D.C., foram atacados por terroristas. (...) no início de 2003, as forças de coalizão afastaram Saddam do poder. Naquele ano, Mayada decidiu que queria contar ao mundo a verdade sobre a vida no Iraque, a realidade narrada por alguém que vira o país sob todos os ângulos, dos palácios de Saddam às suas câmaras de tortura. Depois de semanas refletindo sobre a possibilidade de registrar para sempre sua história, mayada pediu-me que escrevesse sobre sua vida, e eu aceitei.”
                                 JEAN P. SASSON



“O relato honesto e objetivo de Sasson (...) oferece aos leitores uma ideia de crueldade e do sofrimento suportados por gerações de iraquianos.” – Publishers Weekly

“Absolutamente arrebatador e profundamente triste.” - People


quarta-feira, 6 de junho de 2012

POEMA – MARIO QUINTANA

Oh! Aquele menininho que dizia
“Fessora, eu posso ir lá fora?”
Mas apenas ficava um momento
Bebendo o vento azul...
Agora não preciso pedir licença a ninguém.
Mesmo porque não existe paisagem lá fora:
Somente cimento.
O vento não mais me fareja a face como um cão amigo...
Mas o azul irreversível persiste em meus olhos.





sábado, 2 de junho de 2012

NOVA ANTOLOGIA POÉTICA
VINICIUS DE MORAES


POEMA DOS OLHOS DA AMADA

Ó minha amada
Que olhos os teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe nos breus...

Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus...

Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas eras
Nos olhos teus.

Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.

Rio, 1950